9 de novembro de 2013

Um clássico de estudantes com Febras dos dois lados

Viagem ao centro de um duelo de negro pela voz de quem conheceu os dois clubes

Este domingo, reaviva-se em Coimbra um clássico da zona centro há muito adormecido. Académica e Académico de Viseu, dois clubes ligados pelas raízes estudantis, com o negro dos equipamentos em comum, e um passado de orgulhar qualquer adepto, reencontram-se ao fim de 16 anos.

Os dois «vizinhos» costumavam frequentar a casa um do outro entre as décadas de 70 e 90, com muitos duelos no âmbito da II Divisão, mas também durante um curto período de três épocas (de 78 a 81) em que coincidiram no escalão principal.

Também houve encontros a contar para mesma prova no âmbito da qual estão prestes a rever-se. Em 62/63, por exemplo, a Briosa aplicou um 10-1 aos viseenses, que se vingaram mais de 20 anos depois, na época de 94/95, em Viseu, ganhando por 1-0. Mas, na temporada seguinte, os de Coimbra voltaram à cidade de viriato para devolver a cortesia, e na mesma moeda: 0-1.

Domingo a contenda vai ter novamente um desnivelamento competitivo, tantas vezes anulado nesta prova, entre equipas que terão também em comum o desconforto classificativo de um 14º lugar, para os estudantes de losango ao peito, e de um penúltimo posto, para os viriatos.

No centro do eixo Coimbra-Viseu

Quando Jorge Cardozo, o eterno Febras, chegou finalmente ao mais representativo clube do seu distrito, ainda o conheceu como Clube Académico de Futebol (C.A.F.), mas já com sinais preocupantes. Quatro anos depois, o estrangulamento provocado pelas dívidas levou a uma solução engenhosa: uma refundação.

O C.A.F. resolveu associar-se ao Grupo Desportivo de Farminhão e dar lugar ao atual Académico de Viseu Futebol Clube. A coletividade fundada nos primeiros anos do Século XX por um grupo de alunos do Liceu e do Colégio da Via-Sacra transmitiu toda a herança para o novo clube (símbolo, cores), tirando as dívidas… e a filiação ao Sporting Clube de Portugal.

O Farminhão, emblema de uma das freguesias do concelho de Viseu, que disputava a I Divisão Distrital, retirou óbvias vantagens na mudança de nome. Transferiu a sede para capital de distrito, e acordou com a câmara a utilização do mítico Fontelo.

A alcunha Febras, deve-a ao talho do pai, e também já a passou para a descendência, um património de família orgulhosamente preservado. O eixo Coimbra-Viseu sempre fez parte da vida do antigo avançado, agora treinador do Moimenta da Beira.

Chegou à cidade dos estudantes com 15 anos, proveniente do Cracks de Lamego, da terra natal. Partilhou o balneário com o próprio Sérgio Conceição, a quem gaba a raça e a paixão pelo futebol, além dos golos que lhe deu a marcar numa célebre época ao serviço dos juvenis da Briosa.

«São excelentes memórias, tenho tantas saudades dessa altura. Os tempos de estudante, quando começamos a cimentar as amizades. Sempre que vou a Coimbra não é fácil sair de lá», confessa ao Maisfutebol, elegendo a subida à divisão principal, em 97, como o ponto mais alto de uma carreira de 14 anos como profissional.

«Tínhamos uma grande equipa, comandada pelo Vítor Oliveira, mas ninguém pensava que conseguiríamos, depois de tantos anos, voltar à I Divisão», recorda, indo diretamente ao âmago da questão: «Desse tempo, julgo que só dois ou três jogadores não estudavam. A Académica dos estudantes, essa sim é a minha Académica, a minha paixão. Foram 11 anos de Coimbra, é uma vida. »

Dessa formação que logrou o regresso ao convívio dos grandes havia diversos nomes caros aos apaniguados da Briosa, como Pedro Roma, Mounir, Abazi, Dinda, Rui Campos, Rocha, Dário, João Tomás ou Pedro Lavoura.

Coração da Briosa

Quando chegou, por fim, a Viseu, depois de ter gravitado pela periferia, o momento não era, porém, o melhor. O drama que estaria na base da refundação do clube alguns anos mais tarde começava a desenhar-se no horizonte. Foi apanhado no olho do furacão.

«Tenho um grande carinho pelo Ac. Viseu. Fui bem tratado pelas pessoas, pela cidade, e pela maior parte dos diretores, mas o clube já vivia com grandes problemas financeiros.» Além disso, uma arreliadora lesão levou-o a comprometer-se a receber apenas quando estivesse clinicamente curado.

Mesmo com esse acordo, os atrasos da primeira época, e o caminho que a coisa estava a levar na segunda, levaram-no a sair a meio de da temporada 2001/02 para o Lousada. Passou depois pelo Vizela e ainda tentou o futebol da Malásia, levado por José Garrido, mas não aguentou a distância e, dos seis meses de contrato, cumpriu apenas mês e meio.

Terminaria a carreira de novo no Lousada para regressar onde tudo começou, em Lamego, onde é, há cinco anos, nadador-salvador nas piscinas da cidade, além de orientar com distinção o Moimenta (lidera o distrital de Viseu), como já se disse.

«As pessoas de Viseu que me perdoem, mas passei seis épocas de sénior, fora as camadas jovens, na Académica e é por ela que bate o meu coração», confessa, ao mesmo tempo que lamenta o facto de não poder deslocar-se ao estádio nesse dia, por ter compromissos familiares previamente estabelecidos.

«Penso que a Académica tem todas as condições para passar a eliminatória, é a favorita, está numa divisão superior, mas não vai ser fácil. Não estou a ver o Académico a facilitar, de maneira nenhuma. Vai ser um bom jogo», finaliza, sem margem para hesitações.

in maisfutebol

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