11 de junho de 2014

Ricardo: do golo a Palatsi à história frente ao FC Porto

Ex-capitão da Briosa esteve em duas vitórias célebres sobre os azuis e brancos. Agora vai jogar pelos dragões. Fomos recuperar-lhe o percurso até chegar à Invicta


É guarda-redes, mas foi por ter... marcado um golo de baliza a baliza que Ricardo saiu do anonimato. Em Março de 2006, com 23 anos, o reforço do FC Porto deu a vitória ao «seu» Varzim sobre o Moreirense, de Palatsi, e, claro, tornou-se num daqueles heróis por motivos improváveis

O esguio e elástico guardião terá, porventura, beneficiado de mais mediatismo quando, quase um ano depois, ainda na Póvoa, eliminou o Benfica nos oitavos de final da Taça de Portugal após uma exibição memorável. Quem treinava os varzinistas? Diamantino Miranda. A «traição» suprema, ainda por cima em noite de estreia no banco poveiro. 

A partir daí, ficou no radar de vários clubes da Liga, mas foi a Académica quem, no final dessa época, vence a corrida e consegue trazê-lo para Coimbra para assinar um contrato de quatro anos. Suplente de Pedro Roma, fez apenas um jogo pelos estudantes: Domingos Paciência resolveu premiá-lo pelo bom trabalho com uma estreia de fogo no escalão principal, frente ao Benfica. 

A notícia, avançada em primeira mão pelo Maisfutebol a meio da tarde do jogo que se realizaria ao serão em Coimbra, colheu muita gente de surpresa, menos o próprio jogador, a quem o técnico já havia confessado umas semanas antes estar a pensar lançá-lo às feras. 

Domingos jogou, seguramente, com o fator psicológico, pois Ricardo havia sido decisivo na época anterior, na tal eliminatória da Taça de Portugal. No final, as coisas acabaram por correr mal, como o jovem treinador reconheceu, assumindo todavia toda a responsabilidade por ter apostado num novato. 




O guarda-redes ficou marcado pela estreia azarada no próprio corpo , devido a uma lesão que o afastou dos relvados mais de dois meses. Na altura, o nosso jornal conseguiu ouvir em exclusivo o desabafo do jogador: 

«Depois de duas grandes épocas no Varzim, a ouvir tantos elogios, já não estava habituado às críticas. A pressão é agora muito maior e ao mínimo erro, não há hipótese. Hoje, abro os jornais e sou crucificado por todos. São coisas do futebol, acontece. Mas se conseguir superar isto, acredito que estarei preparado para tudo.» 

Ricardo não estava enganado. Mas teve de esperar mais um pouco para, por fim, agarrar a titularidade na Briosa. A temporada seguinte, ainda com o atual treinador do V. Setúbal, mas também com Pedro Roma e a chegada de um tal Peskovic, foi decidido que o melhor era emprestar o mais novo dos guardiães. 

Ficou ali perto, em Leiria, numa altura em que a União apostava tudo para regressar à I Liga. Na primeira metade da época, foi suplente de Fernando Prass, jogador já com carreira feita no Brasil e que a SAD não havia conseguido vender aquando da descida. 

Foi apenas uma questão de tempo. O brasileiro sai em Janeiro para o Vasco da Gama e Ricardo faz o resto da época em bom plano, dando preciosa ajuda no regresso dos leirienses ao escalão maior. Voltou a Coimbra pela porta grande. 

Villas Boas preferia... Rui Nereu 

A saída de Domingos para o Sp. Braga, depois de conseguir a melhor classificação desde 84/85 da Académica (sétimo lugar), levou o clube a contratar Rogério Gonçalves. O técnico apostou no guardião até à sétima jornada, quando foi despedido. 

Rendido por Villas Boas, este prefere entregar a baliza a Rui Nereu. Ricardo só volta à 18ª jornada, cumpre cinco jogos no campeonato, é de novo preterido em favor do colega, mas joga a antepenúltima ronda. Com a manutenção assegurada, os últimos dois encontros serviram para dar uma oportunidade a Barroca, habitual terceira opção. 

Segue-se uma época praticamente em branco, porque com a saída de Peskovic, também de Pedro Roma, os estudantes recrutaram Peiser, em final de contrato com a Naval. Só faz três jogos, nas taças. Obviamente, pensou em deixar o clube para poder jogar, mas Pedro Emanuel «exigiu» que ficasse. Acabou por renovar por três épocas.



O jovem técnico, em estreia na Liga, dá, todavia, novamente preferência à maior experiência do guardião francês. Volta, por conseguinte, a ser o eleito para as competições extra-campeonato, só que a caminhada triunfal pela Taça de Portugal permite-lhe fazer seis jogos, incluindo o do Jamor. Só falhou os quartos de final com o Desp. Aves por estar lesionado. 

O arranque em definitivo para a carreira que hoje se lhe reconhece aconteceu nos últimos dois jogos dessa época para a Liga. Com a Académica abaixo da linha de água, depois da polémica goleada do Feirense à U. Leiria com apenas oito jogadores, e vinda de uma sequência de 16 (!) jogos sem ganhar, o guarda-redes joga pela primeira vez no campeonato nessa temporada, depois de mais um mau desempenho de Peiser, em Alvalade. 

A afirmação por fim e a queda para os penalties 

Foi neste ponto. Neste exato momento, que tudo começou. Ricardo não teve trabalho, mas mereceu um destaque, no Maisfutebol, pela pena de Adérito Esteves: «Estreia a titular na baliza dos estudantes em jogos do campeonato. Mas se queria mostrar serviço este não foi o melhor jogo para o fazer. Não foi obrigado a fazer qualquer defesa ao longo de toda a partida. Contudo, mostrou-se sempre muito atento na saída a cruzamentos.» 

Seguiram-se o jogo em Guimarães (nova vitória) e a inesquecível final frente ao Sporting de Sá Pinto. Desde ai, nunca mais falhou uma partida da Briosa para o Campeonato, cumprindo 62 encontros consecutivos. Pelo meio, um triunfo histórico sobre o... FC Porto, no caminho para o Estádio Nacional e outro, já nodecorrer da última época

Neste último jogo, em que voltou a fazer uma exibição arrebatadora, teve ensejo de colocar em prática aquilo que é uma das suas especialidades: defender penalties. Que o diga Alex Sandro, apenas um dos cinco que tentaram bater o guardião na temporada passada da marca dos 11 metros e não o conseguiram. 


Em duas épocas, Ricardo conseguiu defender 12 grandes penalidades. Tudo começou com uma famosa eliminatória da Taça da Liga, diante do Sp. Covilhã e, no final do jogo, foi de uma humildade estonteante quando confrontado com o feito.

Como se escreveu na reportagem de então, o percurso do guardião foi tudo menos fácil, com anos na sombra até à afirmação, nos últimos dois anos. «Sinto um orgulho enorme em mim, porque é nesses momentos que se veem os grandes homens, quando não se joga. Nunca virei a cara à adversidade, sempre lutei como profissional pelos interesses da Académica Jogando ou não, gosto de receber bem os colegas e criar bom ambiente no grupo.» Talvez lhe venha a ser útil esse espírito no Dragão.

in maisfutebol 

Sem comentários:

Enviar um comentário